A maternidade atravessa o conceito de disco feminino que agrega nomes como Anastácia, Mart’nália, Josyara, Elisa Lucinda e Zé Manoel na criação de inédito repertório autoral. Capa do álbum ‘Ayé òrun’, de Maíra Freitas e Jazz das Minas
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♪ Ayé òrun, álbum que Maíra Freitas lança em 26 de maio, pode ser considerado o quarto título da discografia da pianista, cantora e compositora carioca. É que, há três anos, a artista teve editada em disco a trilha sonora que compôs para o filme Sementes – Mulheres pretas no poder (2020).
Contudo, Ayé òrun é o primeiro álbum de Maíra Freitas desde Piano e batucada (2015), disco editado há oito anos. Ayé òrun é álbum gravado e assinado pela artista com o coletivo feminino Jazz das minas, grupo que aglutina Cris Ariel (guitarra, voz e produção musical), Samara Líbano (violão de sete cordas), Paula Pardon (baixo), Monica Ávila (sax, flauta e voz), Sara Leite (trompete), Kátia Preta (trombone e voz), Rapha Morret (percussão) e Flavia Belchior (bateria e voz).
O disco foi gestado a partir da maternidade de Maíra Freitas. “Acho que, quando alguém vira mãe, tudo muda e não ia ser diferente comigo. A música Ayé òrun nasceu junto com a Zinga (minha filha mais nova e a irmã de Zambi). Estava tendo as contrações do meu longo trabalho de parto e aquele refrão não saía da minha cabeça. Para mim, parir foi um momento mágico, lindo e doloroso. É uma oportunidade maravilhosa ser um portal entre a terra (ayé) e o céu (òrun)”, reflete a pianista, para quem o exercício da maternidade não está condicionado necessariamente à existência de gerar um sere no útero.
A ideia da artista foi dar forma a um álbum autoral, desenvolvido por mulheres em todas as etapas – da composição ao som final, passando pelos arranjos, arte da capa, produção musical e mixagem.
O elenco de convidados do álbum Ayé òrun, no canto e/ou criação das músicas, é majoritariamente feminino e inclui Anastácia e Mart’nalia [Água de sal], Josyara [Okê arô] ’Marina Iris [Meu quintal], a violoncelista Flávia Chagas e as poetas Elisa Lucinda [Ausência do encontro], Lis MC [Ateando fogo], Gênesis [O nascimento do amor] e Carol Dall Farra [Você me faz muito mal (Dia feliz)].
“Temos um disco realmente feito por nós, em que ficamos totalmente à vontade para fazer música para se divertir, extravasar e curar. Mas temos a participação pontual de alguns aliados, como Zé Manoel na música Ateando fogo e Alberto Salgado e Ìdòwú Akínrúlí na música-título Ayé òrun, além de Mario Rocha na coordenação geral”, ressalta Maíra Freitas.
Maíra Freitas em estúdio na gravação do álbum ‘Ayé òrun’
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♪ Eis a gênese das músicas do álbum Ayé òrun nas palavras de Maíra Freitas:
♪ Água de sal – “Conheci Anastácia num evento de música em São Paulo. A gente trocou umas ideias e ela mandou essa canção, que achamos a cara da minha irmã Mart’nália. É uma música pra curtir aquela paixão de verão”.
♪ Ateando fogo – “Uma canção que comecei, joguei na rede social e o Zé Manoel, colega preto pianista talentosíssimo, me mandou uma mensagem completando a música. Ele tinha que estar no disco, acertou em cheio nos versos. Quando fiz o arranjo, fiquei imaginando alguém do rap mandando uma letra e por coincidência o produtor da Lis MC veio falar comigo por conta de outro projeto. Na hora, eu a convidei pra cantar na faixa”.
♪ O nascimento do amor – “Uma música que fiz em cima da poesia da Gênesis e a música foi sendo composta inclusive em cima do áudio dela falando. Quando vi estava rumando para um clima spoken words e a chamei pra dizer a sua poesia na canção”.
♪ Você me faz muito mal (Dia feliz) – “A poesia de Carol Dall Farra chegou por encomenda. Eu fiz o refrão e queria muito uma poesia que falasse sobre essa coisa de você estar numa relação que te faz mal. Fui procurar Carol e ela chegou com uma poesia fantástica, arrebatadora e certeira”.
♪ Cabeça de vento – “Uma canção que a artista Quel me mandou sem o refrão. Foi muito interessante porque foi num dia de tempestade intensa, raios deslumbrantes. O refrão chegou pra mim no escuro, grudou na mente e não saiu mais”.
♪ Ausência do encontro – “O livro Vozes guardadas, da Elisa Lucinda, me acompanhou em 2022 quase como um oráculo: eu ia abrindo, lendo e iluminando meu dia. Muitas poesias daquele livro estão inconscientemente nas músicas do disco, mas a poesia que acabou entrando foi O cavaleiro da madrugada, que coube perfeitamente nesta canção”.
♪ Meu quintal – “Convidei Marina Íris para cantar este samba que a Kátia Preta (trombonista do grupo) compôs pra mãe dela. É uma canção carregada de axé que fecha o ciclo falando sobre os ensinamentos ancestrais muito presentes no matriarcado preto brasileiro”.
♪ Embolada da coisa que rola – “Uma canção que Monica Avila (saxofonista do grupo) mostrou pra gente quando começamos os nossos ensaios. É uma música que expressa muito o nosso posicionamento político e faz parte do nosso repertório nos shows há mais de um ano, mas continuava inédita enquanto gravação”.
♪ Okê arô – “Nesse processo também pedi música pra Josyara, que é uma amiga de longa data, e chegou esta música de que gostei muito, pois transita entre a música cantada e a instrumental, faz sentido espiritualmente – além de ter a presença marcante do violão característico da Josyara”.
♪ Dona culpa – “Nasce da maternidade, também, mas se estende. Surgiu da vontade de escrever sobre a culpa, sentimento tão feminino e principalmente materno que norteia a vida de muita gente. Essa música cresceu também quando estava compondo a trilha da peça Mãe arrependida, da Karla Tenório. A música bebe um pouco do texto da peça e se mistura com a composição e produção musical de Cris Ariel, que também é compositora da canção”.
♪ Tambor atento – “Foi composta na pandemia junto com alguns seguidores das redes sociais. Nessa época, eu fazia um refrão por semana baseado em frases que vinham da caixinha de perguntas. Eu gostei tanto desse refrão e quis continuar. Pedi mais frases para as pessoas e acabou nascendo uma música feita por muitas mãos e que exprime bem os sentimentos de 2020”.
♪ Mãe orixá – “Uma música parida de muitas dores e também de questões políticas importantes. Ela é sobre essa potência que é ser mãe. A mãe enquanto deusa. Me incomodava muito ouvir as músicas sobre mãe que não foram escritas por nenhuma mãe. Fiquei mastigando essa música um tempo e estava meio empacada quando a nossa baterista Flavia Belchior chegou com uns versos iluminando a canção. Levei a música para Afroflor, que trouxe novos elementos e, assim, fomos costurando a música”.
♪ Ayé òrun – “A primeira música a ser composta do disco. O refrão chegou durante o trabalho de parto da minha filha mais nova e uns meses depois o Alberto Salgado me mandou um violão que encaixava certinho no meu refrão. Fiz a música e depois o Ìdòwú Akínrúlí brilhou com seus versos em Yorubá e seus tambores”.
Capa do single ‘O nascimento do amor’, de Maíra Freitas e Jazz das Minas
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Maíra Freitas dá à luz ‘Ayé òrun’, álbum autoral gestado com o coletivo Jazz das Minas
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