Enganadores usaram deepfake, técnica que permite modificar vídeo ou foto com inteligência artificial (IA). Produto citado não tem qualquer eficácia comprovada contra doenças oculares. Médico do HC de Ribeirão Preto alerta para golpe de falso tratamento oftalmológico
Golpistas alteraram a voz de um médico do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto (SP) para produzir um vídeo com indicação de um falso tratamento para doenças oftalmológicas. Eles usaram deepfake, técnica que permite alterar vídeo ou foto com inteligência artificial (IA).
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A produção enganosa afirma que o produto Lutramin, uma espécie de suplemento alimentar, foi testado pelo serviço de oftalmologia da USP de Ribeirão e que ele funcionaria para diversas patologias oculares, como degeneração macular, retinopatia diabética e glaucoma.
As informações, no entanto, são falsas.
No vídeo, os golpistas usam uma reportagem verídica com o professor Rodrigo Jorge, mas, com a inteligência artificial, manipulam o áudio para passar informações falsas tanto sobre o Lutramin quanto sobre o uso de ozônio em tratamentos oftalmológicos.
O medicamento não tem qualquer eficácia comprovada contra as doenças oculares.
Ao g1, o médico explicou que soube da farsa através de um aluno que foi até ele falar sobre o vídeo.
“Um aluno me mandou o vídeo, até brincou: ‘olha, você está famoso’. No começo, a gente fez muitas pesquisas de tratamento, até hoje a gente faz. Fizemos várias reportagens no passado. Quando ele mandou, falei: ‘é uma reportagem antiga que está rodando novamente’. Mas, depois, na hora em que escutei, foi mudado completamente o teor da reportagem”, disse.
Os golpistas chegaram, inclusive, a criar um site para comercializar o produto. Nesse endereço, que, até a publicação desta reportagem, seguia no ar, está o vídeo modificado.
“A fala é completamente adulterada. A gente nunca trabalhou com ozônio e nem com essa droga, nada disso. Põe a gente falando por alguns segundos, daí põem um áudio sem precisar modificar minha face, colocando outras imagens. Algo até relativamente bem feito”, pontua Jorge.
O médico ressaltou que não recebeu relatos de pessoas que tenham caído no golpe. Apesar disso, ele gravou um vídeo, publicado nas redes sociais do hospital, para alertar sobre a enganação. Assista ao alerta no começo da matéria.
Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
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Além de gravar o vídeo com o alerta, Jorge também comunicou a diretoria da Faculdade de Medicina e o superintendente do Hospital das Clínicas.
Disse, ainda, que estuda com o departamento jurídico da USP e com um advogado particular as medidas cabíveis, entre elas a possibilidade de registrar um boletim de ocorrência.
O g1 entrou em contato com o número de telefone divulgado no site onde o medicamento é comercializado, mas a pessoa que atendeu a ligação disse não saber sobre do que se trata.
Já a Polícia Civil informou que não localizou registro sobre o caso.
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