Caso vinha sendo acompanhado por pesquisadores por nascimento ser um fato inédito no Brasil. Filhote de elefante-marinho descansa na praia do Siriú, em Garopaba, SC, antes de deixar local
Instituto Australis/PMP-BS/Divulgação
O ano de 2024 entrou para a história da biologia brasileira com o registro do primeiro nascimento de elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) em território nacional. Uma fêmea teve o filhote entre a noite do dia 10 e madrugada de 11 de outubro na Praia do Siriú, em Garopaba (SC). Porém, a notícia que parecia boa trouxe com ela um drama: desde o nascimento, os pesquisadores sabiam que a mãe, num dado momento, iria voltar ao mar e que o filhote ficaria sozinho na areia.
No ambiente natural da espécie, na Patagônia, isso não seria problema, já que esses animais vivem em colônias. Mas aqui, onde ao que tudo indica, a fêmea chegou depois de estar perdida, e o comportamento significaria um grande risco para o filhote.
Os biólogos tinham dúvidas se ele conseguiria voltar à Patagônia ou se ficaria vivendo na área. Os pesquisadores tinham pensado em última hipótese transportar o animal até uma colônia reprodutiva. Tentativa complexa que não deu tempo de ser colocada em prática.
Depois de alguns dias na areia, sem a mãe, e sendo monitorado pelos pesquisadores, infelizmente, o filhote não foi mais visto. A suspeita é de que ele pode não ter sobrevivido. Há a informação de que um animal jovem foi encontrado encalhado morto numa praia de Santa Catarina.
A principal hipótese dos pesquisadores é de que possa ser o filhote nascido no Brasil, mas não é possível afirmar com certeza por conta da ausência de testes clínicos para atestar isso.
Filhote de elefante marinho é encontrado sem vida na Praia Vermelha, em Garopaba
O nascimento
O nascimento no Brasil é um fato inédito porque a espécie tem hábitos reprodutivos em águas geladas no sul da Argentina, onde vive em grandes colônias com um macho dominante num “harém” com dezenas de fêmeas.
Foi a equipe do Instituto Australis que executa o projeto de monitoramento de praias da Bacia de Santos (PMP-BS) que constatou o nascimento do elefante-marinho-do-sul em Garopaba. A bióloga Karina Groch, diretora de pesquisa do Australis conta que uma das equipes fazia o monitoramento nas praias da região quando notou algo diferente.
“A equipe se deparou com o elefante marinho acompanhado de um filhote e a gente constatou que esse filhote tinha nascido ali no dia anterior nós tínhamos avistado um elefante-marinho perto de uma praia próxima e aí esse elefante estava sozinho e nesse dia tava com filhote, a gente concluiu então que era essa fêmea que tinha acabado de ter o filhote durante aquela noite.”
Durante os primeiros dias, uma força-tarefa formada por biólogos, voluntários e representantes de órgãos ambientais foi formada para garantir a proteção da mãe e do filhote. Uma barreira foi colocada na praia para garantir a tranquilidade dos animais e protegê-los do contato humano.
Karina Groch, do Instituto Australis, explica que após o nascimento, a mãe amamentou a cria por cerca de vinte dias. Na primeira semana, em jejum, a mãe apenas cuidava do filhote. Pouco antes de voltar para o mar em definitivo, a fêmea começou a entrar na água e estimular o filhote a aprender a nadar.
Mãe e filhote de elefante-marinho em Garopaba (SC)
PBF/AUSTRALIS
Como era esperado pelos pesquisadores, passado o tempo de amamentação de quase três semanas, a fêmea deixou o filhote e retornou de vez para o mar como é o hábito da espécie.
Como eles vieram parar aqui?
O principal questionamento dos especialistas era por qual motivo, a fêmea apareceu no litoral brasileiro, há três mil quilômetros da Patagônia? A hipótese das mudanças climáticas no planeta não é descartada pelos especialistas.
“A conclusão é que é decorrente deles terem se perdido durante sua natação, durante seus movimentos migratórios e acabaram chegando aqui. E uma das possibilidades atribuídas a esse deslocamento, especialmente dessa fêmea que estava grávida e acabou tendo que ter o seu filhote aqui porque chegou a hora do nascimento, é em função das mudanças climáticas que vêm alterando várias questões oceânicas e pode estar comprometendo de alguma forma, ter desorientado esse animal a chegar até aqui. Essa é uma das hipóteses que os especialistas que pesquisam essa espécie levantaram para essa ocorrência atípica no nosso litoral”, pontua Karina Groch.
Numa situação natural, no sul do continente, ele estaria acompanhando de outras dezenas de filhotes nas colônias. Passadas as três primeiras semanas do nascimento, ele estaria num período de aprimoramento de nado e de pesca que poderia durar até três meses.
Filhote de elefante-marinho nascido em SC e mãe se divertem em câmera lenta em praia
Outros casos
Nesse fim-de-ano, outros elefantes-marinhos-do-sul foram registrados no Brasil. Dois animais foram vistos em outubro no litoral fluminense, nos municípios de Casimiro de Abreu e Armação dos Búzios. O Instituto BW monitorou os animais.
Elefantes-marinhos aparecem em rio de Casimiro de Abreu e em praia de Búzios
DivulgaçãoInstituto BW e imagem cedida por Rio das Ostras 24h
No dia 13 de novembro, uma fêmea foi avistada na praia das Astúrias em Guarujá, litoral paulista. Ela recebeu atendimento do Instituto Gremar. O animal com cerca de 2 metros de comprimento e 200 quilos, apresentava exaustão e alteração nos exames de sangue iniciais. Uma semana depois de aparecer em Guarujá, a fêmea voltou para o mar em boas condições de saúde.
Elefante-marinho-do-sul volta ao mar após atendimento no litoral de SP
Outro animal da mesma espécie apareceu no litoral da Bahia, entre Ilhéus e Itabuna. Ele foi atendido por integrantes do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) que identificou o animal como macho com peso aproximado de 300 kg. Ele foi levado para reabilitação.
Elefante-marinho é encontrado em rio entre Ilhéus e Itabuna
Instituto Mamíferos Aquáticos
Os elefantes-marinhos-do-sul são mamíferos que apresentam um focinho inflável nos machos, semelhante à uma tromba. Eles podem atingir até 6,5 metros de comprimento e pesar cerca de 5 toneladas. Já as fêmeas apresentam o focinho arredondado. São menores, atingem cerca de 3,5 metros de comprimento e uma tonelada de peso.
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