Em entrevista ao g1, Pe Lanza, diz que abrir mão de ‘encher a cara’ no passado foi pelo bem da banda, conhecida por provocar uma febre de roupas coloridas no início dos anos 2010. Restart está de volta aos palcos após oito anos do fim da banda
De volta aos palcos após oito anos de divórcio, Restart anunciou nesta semana que, a partir de outubro, fará a turnê “Pra Você Lembrar”, um adeus dos músicos à banda que, no início dos anos 2010, levou uma legião de crianças e adolescentes a ostentar calças ultracoloridas, óculos quadrados e cabelos lambidos.
Em vez do visual chamativo, os artistas surgem, agora, mais sutis. Não têm os aspectos, digamos, infantil e caricato que tanto marcaram a banda.
A mudança foi proposital, segundo Koba, guitarrista e compositor da Restart. Ele conta que os músicos sabiam que seria importante resgatar a estética colorida, mas, quiseram adaptá-lo às circunstâncias atuais — deles, da banda e dos fãs.
“Com o amadurecimento de nós quatro, a gente quis trazer as cores com uma pitada do estilo em que cada um se descobriu”, afirmou Koba. “Essa mistura acabou deixando a coisa esteticamente mais bagunçada. Mas é um bagunçado é legal.”
A banda Restart em 2023
Rodrigo Takeshi
O velho novo
Com um repertório que, claro, resgata sucessos do grupo, como “Levo Comigo” e “Menina Estranha”, a turnê segue o mesmo caminho de projetos de bandas como NX Zero e Titãs, que recentemente também decidiram embarcar em shows nostálgicos, calcados unicamente na ideia do fan service.
Mas diferentemente dos grupos citados, sobretudo em relação aos Titãs, Restart ressurge de suas cinzas coloridas para celebrar uma carreira que teve pouco tempo de duração. Foram sete anos de banda — dos quais quatro são de sucesso estrondoso —, numa trajetória musical taxada por muitos como fraca demais para sustentar uma fama duradoura.
Após anunciarem o rompimento da banda, em 2015, Pe Lanza (vocalista e baixista), Pe Lu (vocalista e guitarrista), Thomas (baterista) e Koba (guitarrista e compositor) seguiram no setor, mas cada em trabalhos solo.
A banda Restart em 2023
Rodrigo Takeshi
Nenhum dos músicos viveu um sucesso equiparável ao que, juntos, haviam experimentado antes. Ainda assim, dizem não se incomodar nem com a efemeridade da Restart nem com a repercussão de seus projetos individuais.
“Não é que a gente não se preocupe em fazer sucesso, sempre trabalhamos para isso. Mas o que mais nos motiva é a nossa sinergia musical”, diz Koba. “Se um dia isso ficasse estremecido, a gente iria conversar, e foi o que aconteceu. A amizade não ficou estremecida, mas a gente respeitou o momento pessoal de cada um [no fim da banda].”
Hate vs. love
Mas muito antes de lidar com deboches sobre a duração do grupo, Restart já havia sido chacota em várias ocasiões. Muitas das críticas, porém, não passavam de comentários de ódio, embalados em clichês homofóbicos e sexistas.
“O hate [‘ódio’, em inglês] é, infelizmente, natural quando você alcança um nível de love [‘amor’]”, afirma Pe Lu. “Mas a gente foi atacado com comentários que, na época, estavam num lugar de conversa muito atrás de de hoje. Era mais comum alguém falar ‘viadinho’ como crítica.”
“Hoje, é muito claro os limites. Você pode não gostar da banda. Tá tudo bem. Só não seja homofóbico.”
Também havia a lista de críticas isentas de ódio. E como a outra, não era pequena. Foram vários os ouvintes e artistas que questionaram o talento dos músicos. Se você era ligado na cena musical brasileira da época, por exemplo, talvez se lembre de ao menos uma das vezes nas quais a banda foi vaiada ao ser anunciada como vencedora de prêmios do VMB.
Colorido e pressionado
Tanto as criticas mordazes quanto as paixões fervorosas despejadas sobre o grupo levaram à Restart a moldar seu comportamento dentro e fora do palco.
“Tinha uma pressão, uma responsabilidade muito grande”, afirma Thomas. “Hoje, a gente está num ar comemorativo, de 15 anos da banda, então, tudo está mais tranquilo. A gente não precisa provar nada para ninguém.”
No auge do sucesso do grupo, era comum ouvir seus integrantes afirmarem que não consumiam nenhuma droga, incluindo álcool. Os músicos teriam começado a beber anos mais tarde, quando estavam fora dos holofotes.
Segundo Pe Lanza, a escolha teve mais a ver com profissionalismo do que pressões externas.
“A gente era jovem, estava descobrindo muita coisa e se adaptando. E as pessoas nos tinham como espelho”, diz o baixista. “A banda era a principal relação entre nós, então, a gente tinha que cuidar bem disso, mesmo que [isso significasse] abrir mão de sair para um boteco e encher a cara com amigos.”
Restart
Reprodução / Site oficial ‘Pra você lembrar tour’
“Eu olho como profissionalismo. A gente se tornou um profissional muito cedo e teve que ter responsa do dia para noite. Mas não era nada forçado.
Em 2022, durante sua participação no reality “Power Couple”, Pe Lanza disse que, no auge da banda, viveu um “terror psicólogo”.
Segundo ele, seus empresários o pressionavam a manter a pose de solteiro — possivelmente, sob o argumento de que sua imagem como alguém indisponível a novos relacionamentos poderia causar frustração em fãs obcecadas.
A pressão sobre sua vida afetiva teria levado o cantor a romper um namoro com sua hoje esposa Anne Duarte.
Questionado sobre à declaração no reality, Pe Lanza se esquiva da pergunta, mas diz que fazia parte do jogo abrir mão de “regalias de coisas que gostariam de fazer”.
(Vale dizer que, ainda que possa ter sido pressionado a ser solteiro, o músico chegou a namorar publicamente a atriz Giovanna Lancellotti, na época de ouro da banda.)
Um filme a caminho
Agora, em meio ao clima no qual Thomas os vê menos pressionados, os músicos se preparam para dar um restart na banda. Além dos shows, os artistas preparam aos fãs outro pacote de nostalgia, que vai desde a venda de produtinhos da marca até à gravação de um documentário.
“A gente está produzindo um registro de tudo o que a gente está fazendo. Temos um arquivo pessoal muito grande que conta a nossa história, e chegamos num momento em que queremos contá-la. A gente vai passar por tudo o que aconteceu nas nossas vidas, até por essa turnê de despedida”, conta Koba. “Mas eu não vou dar muito spoiler.”
A banda Restart em 2009
Divulgação
O ponto final
Embora esteja mexendo com as memórias coloridas dos fãs, a banda nega a possibilidade de seu retorno ir além da turnê.
“Vai ser um ponto final de tudo que as pessoas conhecem da Restart, de tudo o que ficou em aberto nestes anos. A gente se sentia nesse dever de encerrar este ciclo de uma maneira grandiosa, de presentear os fãs e se presentear também, de reviver tudo isso de novo, e agora, com uma maturidade diferente. Adultos.”
Os detalhes das datas, locais e ingressos da turnê “Pra Você Lembrar” estarão disponíveis a partir desta sexta, no site “Restart da Despedida”.
Retorno da Restart tem ‘estética bagunçada’, gravação de documentário e menos pressão
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