Há 30 anos, a artista chocou os Estados Unidos com seu protesto contra a Igreja Católica no programa Saturday Night Live. A cantora Sinéad O’Connor rasgando uma foto do papa
Reprodução/YouTube
“Lute contra o verdadeiro inimigo!”
Essas foram as palavras que a cantora Sinéad O’Connor disse após mostrar uma foto do Papa João Paulo 2º para a câmera e rasgá-la em pedaços durante uma apresentação ao vivo no programa Saturday Night Live em 1992.
Ela fez isso depois de interpretar uma versão de War, música de Bob Marley, substituindo algumas partes da letra para torná-la um protesto contra o abuso sexual infantil na Igreja Católica.
A cantora, que morreu na quarta-feira (26) aos 56 anos, contou em seu livro de memórias, Rememberings, que “ninguém desconfiava de nada” do que ela ia fazer no programa.
O’Connor havia retirado a foto do Papa da parede do quarto da mãe recém-falecida, com quem ela não tinha uma boa relação, na casa da família em Dublin, capital da Irlanda.
No dia da apresentação nos estúdios da rede americana NBC, a cantora levou a foto escondida. No ensaio, ela usou a foto de um menino que vivia na rua e foi morto pela polícia no Brasil.
Mas a foto que ela rasgaria ao vivo diante das câmeras seria outra.
Fortes críticas
O episódio que chocou os Estados Unidos deixou o estúdio “atônito em um silêncio total”, O’Connor relembrou em suas memórias.
“Quando fui aos bastidores, literalmente não havia um ser humano à vista. Todas as portas estavam trancadas. Todo mundo tinha desaparecido. Incluindo minha agente, que se trancou no quarto por três dias e desligou o telefone”, ela escreveu.
Na porta dos estúdios da NBC, em Manhattan, Nova York, um grupo de espectadores jogou ovos na cantora quando ela saiu. A rede de televisão recebeu reclamações de mais de 4 mil telespectadores. Duas semanas depois, ela foi vaiada durante um show em homenagem a Bob Dylan no Madison Square Garden.
“Acho que há uma maneira melhor de apresentar suas ideias do que destruir uma imagem que significa muito para outras pessoas”, disse Madonna na época.
Frank Sinatra a chamou de “garota estúpida”, e a diocese do Brooklyn exigiu um pedido de desculpas.
O’Connor foi ordenada sacerdotisa em um igreja cristã dissidente em Lourdes, na França
Antonio Calanni/AP/Arquivo
Na Irlanda, sua terra natal, o impacto da notícia não foi tão grande.
Naquela época, a Igreja Católica estava sendo fortemente questionada pelos escândalos de abusos sexuais e maus-tratos.
Em 1979, João Paulo 2º havia se tornado o primeiro papa na história a visitar a Irlanda.
Ordenada sacerdotisa e conversão ao Islã
Sinead O’Connor
Reprodução / Twitter
Em 1999, em uma das reviravoltas mais inusitadas de sua vida, O’Connor foi ordenada sacerdotisa na Igreja Tridentina Latina, uma igreja católica independente que não está em comunhão com Roma.
Em outubro de 2018, O’Connor anunciou sua conversão ao Islã.
Questionada sobre qual foi a ideia mais equivocada que tiveram a seu repeito ao longo da sua carreira, a artista não hesitou em mencionar o incidente com a imagem do papa.
“A falsa ideia de que minha carreira descarrilou ao rasgar a foto do papa. Minha carreira descarrilou porque eu tinha uma faixa número um que me transformou em uma estrela do pop, o que eu não era. Eu era uma cantora de protesto”, declarou.
Sinéad O’Connor: como cantora foi ordenada sacerdotisa e acabou se convertendo ao Islã após rasgar foto do papa
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