Corpo do dramaturgo chegou ao teatro para o velório por volta das 23h e foi recebido com aplausos e gritos de ‘Viva, Zé!’. O corpo do dramaturgo chegou ao Oficina por volta das 23h, quando teve início o velório, que seguirá até as 9h desta sexta-feira (7). O teatro fica na Rua Jaceguai, 520, no Bixiga, Centro da capital. Foi recebido sob muitos aplausos, tambor e gritos de “viva, Zé”.
Multidão celebra o teatro brasileiro
Do lado de fora, em coro, uma multidão cantava “Eu sou o teatro brasileiro”. Dentro do Oficina, “Eu sei que vou te amar” emocionava os presentes numa atmosfera mágica. Não seria diferente com o diretor que, em vida, afastava rótulos.
Público assiste a rito de despedida de Zé Celso Martinez na rua, em frente ao Teatro Oficina, no Centro de SP
Claudia Castelo Branco/g1
O velório é aberto ao público, e a rua foi fechada para a passagem dos carros. Um telão foi montado na rua para a transmissão do rito.
Chegada do carro funerário com o corpo de Zé Celso ao Teatro Oficina, onde ocorre o velório
Reprodução/GloboNews
“Olha isso aqui…”, observou um ator veterano encantado com a reunião de artistas que não se encontravam há anos. Um deles trabalhou com Zé na montagem de Cacilda. “É a família do teatro reunida. Coisas que só Zé Celso poderia fazer”.
Corpo de Zé Celso Martinez chega ao Teatro Oficina para o velório do diretor
Reprodução/GloboNews
Teatro Oficina preparado para a chegada do corpo de Zé Celso Martinez
Reprodução/GloboNews
Horas de rito
No início da noite, enquanto aguardavam a chegada do corpo, as pessoas no teatro seguravam rosas brancas e cantavam, emocionadas: “Enquanto eu puder cantar, enquanto eu puder seguir, enquanto eu puder sorrir”.
Os atores Julia Lemmertz e Alexandre Borges se juntam a multidão para acompanhar a chegada do corpo de Zé Celso ao Teatro Oficina, onde acontecerá o velório
Claudia Castelo Branco/g1
Pessoas pulavam cantando músicas de “Bacantes”, peça que simboliza o Teatro Oficina. Uma música emendada na outra, com apoio de uma banda. Aplausos. Era o começo do “rito de eternidade” do diretor, dramaturgo e ator Zé Celso Martinez, que não será curto: “As peças duravam horas, a despedida também“, dizem os presentes.
Atores e atrizes cantam e dançam em velório do fundador do Teatro Oficina, Zé Celso
Continuidade
Nova geração do Teatro Oficina
Claudia Castelo Branco
Dois representantes da nova geração do Teatro Oficina acreditam que o trabalho de Zé Celso vai se perpetuar. Para Ayomi Domenica, atriz que integra o Oficina há um ano, é uma honra fazer parte de um “projeto de vida tão profundo, tão revolucionário”. “E quem chega agora faz parte dessa continuidade que é também o trabalho do Zé Celso. Uma linguagem que não se encerra”. O ator Joel Carlos também nutre esperanças. “O que eu sei é que não vai parar”.
Integrantes do Teatro Oficina homenageiam fundador, Zé Celso em velório
Muitas gerações compareceram à homenagem. Artistas conhecidos da televisão se misturaram aos do teatro, do cinema e a crianças. Os versos “sambando nesse carnaval com a minha arte, que é imortal”, do samba-enredo “Quatro Séculos de Paixão – História do Teatro Brasileiro”, da Vila Isabel, foram entoados por todos no início do rito.
Em fila, também cantaram a marchinha carnavalesca “Mamãe eu Quero”. E, de repente, surgiu o som de tambores. O rito teve muitas performances e diversidade, tudo com um toque do dramaturgo.
Integrantes do Teatro Oficina se abraçam em velório do fundador, Zé Celso
Claudia Castelo Branco/ g1
Sob coroas, artistas fizeram saudações a Oxum, a orixá do amor e das águas doces, em frente a uma fonte de água decorada com coroas.
Atores e atrizes do Teatro Oficina homenageiam Zé Celso com música e dança em velório
Despedida de Zé Celso, no Teatro Oficina
Claudia Castelo Branco/ g1
Elvis da Paulista também marcou presença na despedida. Se diz fanático pelo dramaturgo e conta que assistiu a “Bacantes”.
Velório de Zé Celso é marcado por pessoas fantasiadas, música e dança
Claudia Castelo Branco/ g1
Vera Valdez, modelo da Channel e atriz da velha guarda, canta “Fundamental é mesmo o amor” e tem o ar de tranquilidade. Muito cumprimentada, pede uma música. O g1 diz que sente muito pela perda. Ela responde: “Ele é imperdível”, e ri.
Vera Valdez, atriz, em despedida de Zé Celso, no Teatro Oficina
Claudia Castelo Branco/g1
O ator Reinaldo Renzo acompanha a performance da arquibancada superior do Oficina e se diz triste. “Não podia ser diferente. Não esperava menos que isso. E vai esquentar.”
Artistas homenageiam Zé Celso cantando em velório no Teatro Oficina, em SP
O clima de fato foi esquentando. Quando tocou o hit “Sequência de Lovezinho”, pessoas cantaram e levantaram os braços segurando flores. Depois fizeram um círculo e cantaram: “Pois são tantos altos e baixos. O amor é filho de tempo e, assim como ele, é bossa nova”. De repente, uma árvore passou. Um laço cor de rosa amarrado numa outra. O cheiro da fumaça do pau de índio subiu. O tambor frenético.
Mãe e filho que moram na vizinhança do teatro observavam o rito. Ubirajara de Andrade e Maria Gracilete não são frequentadores assíduos. “Gostaria de ter participado mais”, diz Ubirajara. A ideia é que eles passem a ir mais vezes. É a continuidade que Zé Celso tanto defendeu.
Em torno das 19h30, uma pausa. Exaustos, param para derramar lágrimas. “Vamos todos nós dar as mãos e celebrar esse amor que Zé deixou aqui. A união entre artistas, plateia, amantes da arte”, falam. Aplausos tomam conta do local. Cantam sobre flores. “Flores horizontais. Flores da vida.”
“Viva o Teatro Oficina”, grita uma atriz veterana. Mais aplausos. O silêncio toma conta. Mas não por muito tempo…
“Será que ninguém quer falar nada?”, interrompe Vera.
O cantor Otto e amigos aguardam a chegada do corpo de Zé Celso Martinez em bar ao lado ao Teatro Oficina, no Centro de SP
Claudia Castelo Branco/g1
Renato Mendes, ator e Tassio Acosta, professor, aguardavam a chegada do corpo de Zé em um bar ao lado do teatro. Não estavam sozinhos. Emocionado, o músico Otto os presentou com um alecrim. “Um Evoé, saudação do teatro grego que Zé Celso mantinha viva nas suas peças”, explicou Renato.
“O mais difícil agora será viver no Brasil sem o Zé. Eu o conheço desde os 14 anos”, conta Otto, com olhos marejados.
Mika Lins no papel de Cleide Yaconis
Lenise Pinheiro
Ao g1, a diretora Mika Lins destacou a “conexão com o tempo” como uma das grandes qualidades do diretor. “Com aqui e agora, com o que surgia de música, com as evoluções tecnológicas. Era um profundo conhecedor de teatro, um encenador criativíssimo e um homem que dirigia atores como ninguém.”
Zé e Leona
Arquivo pessoal
A passagem de Mika pelo Teatro Oficina aconteceu em 1999 na peça “Cacilda”. Experiência que mudou sua vida.
Leona na sua estreia como Ofélia em Hamlet
Lenise Pinheiro
A atriz Leona Cavalli, que começou sua carreira no Teatro Oficina, com “Hamlet”, relembra o casamento de Zé Celso com Marcelo Drummond, no Oficina. Ela teve que sair mais cedo da cerimônia. “Zé me olhou e disse: ‘Até sempre´”.
O “até sempre” desta quinta-feira não parece ter data para acabar.
Velório de Zé Celso na madrugada é marcado por lágrimas, encontros e celebração ao teatro brasileiro
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