
João Higino Pio foi assassinado em 1969 dentro da Escola de Aprendizes Marinheiros, em Florianópolis. Enterro à época foi feito à revelia e com caixão lacrado por ordem dos militares. Morto pela ditatura, 1º prefeito de Balneário Camboriú terá certidão de óbito retificada
Assassinado pela ditadura em 1969 e próximo de ter a certidão de óbito retificada para como “morto pelo estado”, o primeiro prefeito de Balneário Camboriú, João Higino Pio, terá os restos mortais transferidos para o cemitério do município com honras de Estado.
A informação foi confirmada pela prefeitura da cidade nesta semana após reunião nos últimos dias com a família, que relatou que à época não pôde se despedir por ordem dos militares, que entregaram o corpo em um caixão lacrado. O sepultamento ocorreu na vizinha Itajaí.
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Mais de 56 anos depois da prisão e assassinato, ocorrido em uma cena forjada de suicídio dentro da Escola de Aprendizes Marinheiros, em Florianópolis, Higino Pio terá uma cerimônia com presença de autoridades, forças de segurança, familiares e protocolo fúnebre de estado. Porém, a versão forjada foi desmentida anos depois após o trabalho das Comissões Estadual e Nacional da Verdade, em 2014.
O traslado vai acontecer em 20 de julho, data do aniversário de Balneário Camboriú, informou a prefeitura da cidade.
Higino João Pio foi assassinado em março de 1969
SCC/Divulgação
Assassinato e morte pela ditadura
Inicialmente, a causa da morte do político foi registrada como suicídio. Agora, a mudança na certidão de óbito vai acontecer após 56 anos do crime.
A alteração na certidão de óbito acontece por uma determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Conforme o órgão, o documento informa agora que a morte do prefeito ocorreu de forma violenta, causada pelo Estado, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política, durante o regime ditatorial instaurado em 1964.
Seu corpo foi colocado, “após a rigidez cadavérica haver se instalado”, pendurado com arame no pescoço, amarrado na torneira e com os pés próximos ao chão, em uma cena de teatro montada. A informação consta no relatório final da comissão, que tem mais de 1900 páginas entre laudos, fotos e depoimentos.
Imagens mostram laudo forjado da morte do primeiro prefeito de Balneário Camboriú durante a ditadura
Arquivo Pessoal/Divulgação
Higino João Pio é uma das 434 pessoas assassinadas ou desaparecidas pelo regime no Brasil, e o único morto em Santa Catarina.
A prisão dele, quatro anos depois, foi justificada por supostas corrupções na administração, e que nunca foram provadas. A Comissão da Verdade concluiu que a causa do crime é atribuída a relação de amizade que ele tinha com ex-presidente João Goulart (PTB) e, em especial, a disputa política na região.
“Jango passava as férias em Balneário e tinha contato com o Higino. Quando ele foge, vira uma caçada às bruxas. Mas principalmente por causa das disputas locais dos políticos”, diz o advogado Anselmo Machado, que atuou na Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright, em 2014.
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