
Técnicas como agendar tarefas com antecedência e estabelecer horários de trabalho ajudam a definir limites. Usar a tecnologia para controlar distrações e dar prazos claros também facilita a criação de limites saudáveis.
AP Illustration / Annie Ng
Quando Justin Stewart começou sua carreira, teve que conciliar vários empregos para conseguir pagar as contas. Ele se dedicava ao seu trabalho principal como assistente de produção de um telejornal das 3h da manhã até o meio-dia. Depois, corria para o aeroporto para alugar carros ou para lojas de varejo, onde fazia turnos extras.
Às vezes, dormia no carro entre um emprego e outro. Até que foi internado devido à exaustão e a uma infecção por estafilococos.
“Enquanto as pessoas ao meu redor elogiavam minha dedicação, eu acabei pagando um preço alto”, disse Stewart. “O médico olhou para mim e disse: ‘Não sei que estilo de vida você está levando, mas você é muito jovem para estar tão estressado. Você vai ter que abrir mão de alguma coisa.’”
A partir daí, Stewart, hoje com 36 anos, começou a estabelecer limites. Ele largou os trabalhos extras e decidiu que poderia sobreviver sem aquela renda adicional. Quando os colegas do telejornal mandavam mensagens fora do expediente, ele os avisava que estava fora de serviço e indicava um contato alternativo.
Definir limites no trabalho e na vida pode ser desafiador. Muitas pessoas têm dificuldade em dizer não, especialmente para um chefe. Outras sentem satisfação em serem necessárias ou em agradar os outros.
Mas, segundo especialistas, aprender a recusar pedidos ou convites é fundamental para proteger a saúde física e mental. E, como qualquer outra habilidade, estabelecer limites se torna mais fácil com a prática.
Especialistas em bem-estar e comportamento organizacional, além de profissionais de diferentes áreas, compartilharam estratégias para definir limites.
Organize sua agenda com antecedência
Pode parecer contraditório encher o calendário de tarefas quando o objetivo é reduzir a carga de trabalho, mas isso pode ajudar a ter mais controle sobre o tempo.
Bobby Dutton, fundador da empresa de eventos GBM6, usa uma técnica chamada “calendário agressivo”. Ele reserva horários fixos para tarefas que costuma procrastinar, como lidar com contratos e faturas – sempre às segundas-feiras, às 14h. Para evitar sobrecarga, ele também agenda atividades rotineiras, como tomar café, passear com o cachorro e almoçar.
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Prepare um roteiro
Se dizer não não faz parte do seu hábito, anotar a resposta e ensaiá-la pode ajudar. Stewart aprendeu a comunicar quando a carga de trabalho ficava pesada com frases como “Ei, isso é muita coisa para mim” ou “Você me passou sete matérias, acho que consigo entregar quatro ou cinco.”
Cara Houser, consultora de engajamento no trabalho, diz que não é necessário dar muitas explicações ao recusar um pedido. Basta dizer que não está disponível e completar com um “Obrigado por perguntar, espero ter mais disponibilidade da próxima vez.”
Se a pessoa insistir, uma resposta possível é: “Entendo seu ponto, mas essa foi a decisão que tomei para esse dia”, sugere Houser.
Amber Krasinski, empreendedora, cresceu em um ambiente onde dizer não a um chefe podia significar perder o emprego. Agora, como fundadora da empresa de marketing IvyHill Strategies, ela teme perder clientes ao recusar projetos. Sua solução é usar a frase “ainda não” quando sente que algo está além de sua capacidade no momento.
“Essa frase me ajudou em muitas situações”, diz ela.
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Conheça seus limites
A tendência é aceitar de imediato quando pedem nossa ajuda. Mas, às vezes, é melhor refletir antes. Segundo a psicoterapeuta Israa Nasir, de Nova York, ao receber uma nova demanda de trabalho, vale tirar cinco minutos para avaliar a carga de tarefas, o nível de energia e as prioridades antes de dar uma resposta.
Nasir lembra que um antigo chefe enviava mensagens sobre trabalho às sextas e sábados às 22h. Em vez de responder “não me mande mensagens”, ela propôs: “Podemos conversar às sextas antes do fim de semana? Assim você me passa tudo o que está na sua cabeça e eu me organizo melhor.”
Ela também sugere prestar atenção às atividades e interações que deixam você esgotado. Essas devem entrar em uma “lista de não”. Isso não significa recusá-las sempre, mas sim evitar aceitar de imediato.
Use a tecnologia a seu favor
Celulares facilitam o trabalho remoto, mas também tornam mais difícil separar vida pessoal e profissional. No entanto, pequenos ajustes podem reduzir as distrações.
Nasir percebeu que checava e-mails com muita frequência nos fins de semana. Para evitar isso, passou a mover o aplicativo do Gmail da tela inicial do celular para a segunda página entre sexta à noite e domingo à noite.
Outra ferramenta útil é a assinatura de e-mail. Candice Pokk, consultora sênior em comportamento organizacional, inclui uma mensagem no final dos seus e-mails:
“Recebeu este e-mail fora do horário comercial? O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é único para cada pessoa. Enviei esta mensagem no horário que funciona para mim. Responda quando for melhor para você.”
Escolha reuniões com critério
Com a popularização das reuniões online, é fácil encher a agenda com convites. Mas aceitar todas pode deixar pouco tempo para o trabalho real.
Janine Pelosi, CEO da empresa de tecnologia Neat, acredita que as pessoas deveriam se sentir livres para sair de reuniões que não são relevantes para elas, se isso for aceito no ambiente de trabalho.
Se estiver em dúvida sobre a importância de uma reunião, peça uma pauta antecipadamente ou pergunte qual o objetivo dela.
Dê um prazo
Lori Perkins, editora de 65 anos, trabalhava de 12 a 16 horas por dia quando recebeu um diagnóstico de câncer. Durante a quimioterapia, só conseguia trabalhar quatro horas por dia e sentia que estava “se movendo em câmera lenta”.
Depois do tratamento, ao perceber que sobreviveria, se questionou: “Quero continuar desse jeito?”
Hoje, ela limita sua carga de trabalho a cerca de 50 horas semanais. Como consequência, não consegue revisar tantos manuscritos. Em vez de enviar rejeições diretas, ela sugere que os autores voltem a entrar em contato em três ou seis meses, quando sua agenda estiver mais tranquila.
Perkins também treina dizer “não” mentalmente e anota suas experiências em um diário, registrando o que aconteceu após cada recusa. Isso lhe deu mais tempo para visitar museus, encontrar amigos e ir ao teatro.
“Aprender a dizer não mudou minha vida”, diz Perkins. “Sou uma pessoa completamente diferente desde que aprendi a aceitar essa palavra.”
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