A história do refém Eli Sharabi

Eli Sharabi, antes e depois de passar 491 dias nos túneis do Hamas.Reprodução

Israel não tem olhos para (quase) mais nada que não sejam os reféns, tanto os que foram trazidos de volta quanto aqueles que ainda estão enfrentando o inferno do Hamas. Este é o assunto central dos noticiários e das famílias. Também são citados em todos os eventos possíveis e imagináveis: em shows de música, em encontros de escola, nas rezas em sinagogas, nas filas de supermercado.

Em função deles, já não existe resposta fácil para a rotineira pergunta “tudo bem?”. A resposta a ela tem muitas variáveis, nenhuma totalmente positiva.

A sensação de angústia aumenta na medida em que começamos a conhecer mais detalhes sobre o que os sobreviventes passaram durante seu tempo de cativeiro. Cada um teve sua própria sorte e experiência, dependendo, em grande parte, do humor e do nível de barbárie de seus algozes, e também de sua forma de processar a experiência.

Uma coisa é certa: nenhum deles é a mesma pessoa que era no dia 6 de outubro de 2023.

Em “modo de sobrevivência”

Eli Sharabi, de 53 anos, foi sequestrado de sua casa no kibutz Be´eri, uma das comunidades agrícolas que sofreram o maior impacto da invasão do Hamas. Sua esposa, Lianne, e suas duas filhas adolescentes foram mortas naquele dia. Ele só soube disso depois de ser libertado, quase 500 dias depois. 

Eli Sharabi na “encenação” forçada pelo Hamas, no dia de sua libertaçãoReprodução

Sharabi concedeu uma longa entrevista a um canal de TV israelense, na qual contou em detalhes a experiência inacreditável que viveu como refém de um dos grupos terroristas mais sádicos e sanguinários de que se tem conhecimento na história. Sharabi perdeu 30 quilos no cativeiro e conseguiu sobreviver, segundo ele, por ter imediatamente entrado em “modo de sobrevivência”.

Algumas de suas frases ficarão marcadas na memória do público para sempre.

“Você sabe o que é abrir uma geladeira? É um mundo inteiro. Você sonha com isso todos os dias. Você é espancado, quebram suas costelas, mas nada disso importa. Você só pensa: ‘Me dê mais um pedaço de pão’.”

“Se você implora por mais comida e jogam na sua direção uma tâmara seca, é a melhor refeição do mundo. Cada evento desses é uma salvação.”

“Nos três primeiros dias, prenderam meus pés e minhas mãos com cordas grossas que entravam na minha carne. Amarraram meus braços atrás das costas e eu não conseguia adormecer por causa das dores terríveis nos ombros. Implorei para que pelo menos passassem meus braços para frente, mas se recusaram. Assim, eu desmaiava com a dor e retomava a consciência, desmaiava e voltava, até que eles decidiram soltar minhas mãos. Mas meus pés ficaram presos por argolas de metal, com uma corrente de cerca de 15 centímetros ligando as duas, durante os 491 dias. Depois de algum tempo, eu já não me dava conta da dor provocada pelos cortes e infecções nos meus tornozelos.”

“Em uma situação como essa, você não pensa no futuro. Você lida só com a sobrevivência e tenta encontrar soluções para os problemas. Doem as mãos, você procura uma posição para que não doam. Você está com fome, procura uma solução para diminuí-la. Você entende que não tem controle, que está rendido à vontade de outros. Assim, tudo o que você tenta é tomar de volta o controle. Qualquer controle.”

“O ego desaparece completamente e você se submete a todo tipo de humilhação para conseguir comida.”

A frase mais marcante, me parece, é justamente a que demonstra o que o ajudou a sobreviver:

“A cada minuto no túnel, eu pensava: ‘Talvez hoje, talvez hoje’.”

Armado com uma esperança e força imbatíveis, Sharabi está liderando um grupo de reféns libertados na luta pela libertação daqueles ainda em poder do Hamas, o qual reuniu-se recentemente com o presidente americano Donald Trump.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

Adicionar aos favoritos o Link permanente.