
Juntas, Vera Nilce Hanaoka Matta e Giulia Aiko Hanaoka Matta receberam o tão sonhado diploma no curso de moda, em São José do Rio Preto (SP). Mãe apoia filha com paralisia cerebral e as duas se formam na faculdade de moda
Elas sempre estiveram lado a lado. Mas, dessa vez, com um propósito maior. Depois de largar a profissão para se dedicar à criação das filhas gêmeas, uma mulher de São José do Rio Preto (SP) tomou uma decisão: se matricular no curso de moda junto a uma das meninas, que tem paralisia cerebral, para ajudá-la a se formar na faculdade (leia mais detalhes abaixo).
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Vera Nilce Hanaoka Matta resolveu fazer a segunda graduação para apoiar a filha, Giulia Aiko Hanaoka Matta, no sonho profissional. Juntas, elas enfrentaram as limitações e conquistaram, neste ano, o diploma em uma universidade particular. A trajetória de superação se encerrou com um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) digno de desfile.
Vera engravidou de gêmeas de forma natural e teve uma gestação tranquila. No entanto, durante o parto, os médicos perceberam que Giulia sofreu uma anoxia, ou seja, uma deficiência de oxigênio que comprometeria o seu desenvolvimento motor. Por isso, a recém-nascida precisou ficar 21 dias no hospital.
Vera e Giulia se formaram juntas na faculdade em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
Após o diagnóstico, Vera e a família passaram a acompanhar de perto o crescimento de Giulia, que, embora tivesse a mesma idade da irmã, apresentava dificuldades motoras desde os primeiros meses de vida, o que despertou um alerta nos pais.
“Só que, no decorrer do tempo, a gente notou que, da parte motora, ela estava um pouquinho atrasada e, como ela tinha a irmã gêmea, nós tínhamos um parâmetro de qualquer forma, mesmo sendo pais de primeira viagem. Enquanto a irmã rolava, sentava, ela ainda não conseguia. Foi aí que pedimos um exame com um neurologista e foi contatado que ela tinha paralisia cerebral”, lembra a mãe.
A mãe conta que, embora a filha tivesse limitações, ela sempre demonstrou uma grande vontade de vencer os desafios. Por isso, a família faz questão de comemorar cada pequena conquista de Giulia, como quando ela conseguiu escrever em letra cursiva pela primeira vez.
Mãe volta a faculdade para acompanhar filha com paralisa cerebral em Rio Preto
Curso de moda
Apaixonada por roupas, grifes e tecidos, Giulia decidiu que seguiria carreira na moda. Sabendo das limitações da filha para conversar e para escrever, Vera, que já era formada em matemática, decidiu então que faria a nova graduação.
Modelagem, corte e costura: foi na sala de aula que Giulia e a mãe dela começaram a desenhar o futuro delas na profissão. Durante o curso, Vera ajudava a filha a colocar as ideias no papel, desenhando os modelos de roupas que a jovem idealizava.
“A faculdade ajudou muito a Giulia, ela evoluiu bastante em todos os sentidos. A universidade inclusiva forma não apenas bons profissionais, mas também pessoas felizes, com autoestima e dignidade”, afirma Vera.
Giulia durante a faculdade de moda em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
O esforço e a dedicação das duas foram recompensados quando apresentaram, juntas, o TCC com vestidos coloridos e cheios de detalhes.
Em janeiro deste ano, mãe e filha finalmente receberam o diploma após dias e noites de estudo, superando todos os desafios impostos pela paralisia cerebral.
Giulia e Vera apresentaram TCC digno de desfile na universidade em Rio Preto (SP)
João Serantoni/TV TEM
Sem limites
E até onde vai a dedicação de uma mãe? Vera, que ajudou a filha a realizar um sonho, não conhece esse limite.
“Eu passei a viver em prol da Giulia. Muitas coisas que antes eu não enxergava, hoje vejo que cresci muito com ela. E tem sido assim, sempre uma vitória. A cada passo uma vitória. Se a gente cai, se a gente perde, a gente levanta e tenta de novo”, completa Vera.
E, para o futuro, uma certeza: continuar. Giulia sabe que quer seguir na área, seja como estilista ou consultora, sempre ao lado dos pais, mostrando que não há limites para um sonho.
“É mostrar que todo mundo pode e, quando tem pessoas com determinação, pessoas guerreiras, todo mundo pode. E é o nosso caso. Ela não vai parar, nós não vamos desistir, vamos continuar”, afirma o pai, Alexandre de Souza.
Trajetória da ‘duplinha’
Giulia Hanoka se formou em moda em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
A professora e coodenadora do curso, Silmara Marsellane, acompanhou de perto a trajetória da “duplinha”, como Vera e Giulia ficaram conhecidas na faculdade.
“Ela sempre quis fazer aquilo que todo mundo fazia. Por mais que nós tentássemos poupar, ela queria fazer tudo igual. E notas excelentes, que a Vera não me escute, mas ela [Giulia] tirava maiores notas que a mãe, era muito bacana”, conta a professora.
A universidade escolhida por elas tem um setor especializado em orientar professores e funcionários no acolhimento de pessoas com deficiências físicas, mentais ou intelectuais: a Central de Apoio e Desenvolvimento do Estudante (Cade).
Maristela, presidente do Cade, em entrevista em Rio Preto (SP)
João Serantoni/TV TEM
Segundo a presidente, Maristela Borges, atualmente, a universidade atende 60 alunos que necessitam de acompanhamento psicopedagógico.
“O atendimento psicopedagógico para esses alunos vem de encontro a uma necessidade da sociedade e ao princípio de a gente tratar as pessoas com condições especiais. Então, é praticar o princípio da empatia, de tudo o que a gente prega enquanto instituição de ensino”, comenta a presidente.
Veja mais fotos da mãe com as filhas:
Vera Nilce Hanaoka Matta e as filhas Giulia e Mariana, em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
Vera ao lado das gêmeas, Mariana e Giulia, em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
Mãe e filha se formaram juntas na universidade em Rio Preto (SP)
Vera Nilce Hanaoka Matta/Arquivo pessoal
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