
Governo municipal mantém grupo com oito secretarias para fazer o acompanhamento, orientação e, em alguns casos, encaminhar o paciente ao tratamento. Condição é caracterizada pela dificuldade em descartar pertences. Prefeitura retira entulho de casa de idoso no Jardim Indianápolis, em Campinas (SP)
Vaner Santos/EPTV
A Prefeitura de Campinas (SP) monitora 38 pessoas com indícios de transtorno de acumulação, condição caracterizada pela dificuldade em descartar pertences como roupas, objetos, animais e até arquivos digitais.
📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
O número foi confirmado ao g1 pelo governo municipal. Na semana passada, o Executivo utilizou pelo menos oito caminhões para retirar entulho da casa de um idoso.
De acordo com a Secretaria de Saúde, cada um dos pacientes está em uma condição diferente de tratamento. Ou seja, a pessoa pode já estar fazendo o acompanhamento por meio de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) municipal ou nem ter acontecido ainda o resgate da residência.
Entenda abaixo como funciona o monitoramento aos acumuladores:
Força-tarefa integrada
Campinas tem, desde um decreto assinado em 2017, um grupo intersetorial para fazer o acompanhamento de acumuladores formado por oito secretarias diferentes: Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Saúde, Justiça, Serviços Públicos, Desenvolvimento e Assistência Social, Justiça e Segurança Pública.
A força-tarefa considera como situação de acúmulo a manutenção ou retenção de objetos, resíduos e animais, independentemente da espécie, em quantidade que dificulte a manutenção da higiene e salubridade do ambiente, com potencial risco à saúde humana, além de perturbação de sossego alheio e maus-tratos aos animais.
A partir do momento em que é identificada a condição de possível acumulação, a prefeitura, por meio das secretarias envolvidas, inicia o acompanhamento e orientação, que pode, por consequência, terminar na retirada do material da residência e encaminhamento à internação em uma das unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da metrópole.
Assessora técnica do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas (Devisa), Priscilla Pegoraro afirmou que, no universo da Secretaria de Saúde, o acompanhamento ao acumulador envolve uma série de cuidados oferecidos pelo centro de saúde de referência e visitas domiciliares feitas por agentes comunitários.
“Os cuidados de saúde mental são oferecidos pelas equipes da unidade básica e, se necessário, pelo Caps de referência conforme o caso em análise. O controle de possíveis criadouros do Aedes Aegypti é feito pelas equipes de Vigilância por meio de vistorias, orientações, e aplicação de larvicida, enquanto o controle de animais peçonhentos e roedores é feito pela equipe da Unidade de Vigilância de Zoonoses. Em geral, os casos são transgeracionais e o problema pode ser persistente e recorrente”, explicou.
‘Demanda complexa’
Ainda que os casos de acumuladores ofereça, em algumas situações, riscos à saúde, o problema é tratado com cuidado por conta da complexidade. Segundo a administração, na maioria dos casos, o acumulador não possui vínculo com familiares ou vizinhos e utilizam do objeto acumulado como forma de preencher o vazio ocasionado por perdas pessoais, familiares, financeiras e sociais.
“A remoção destes objetos pode ser extremamente violenta e traumática, o que leva o acumulador a ter uma piora significativa do quadro. O cuidado é feito através de acompanhamento por equipe multiprofissional e interdisciplinar, com objetivo de garantir a melhor intervenção em cada caso”, diz o texto da nota da prefeitura.
Transtorno da acumulação
Fernanda Augustini Pezzato, doutora em psicologia experimental da Universidade de São Paulo, explica que o transtorno de acumulação é definido como uma “condição caracterizada pela dificuldade persistente em descartar ou se desfazer de pertences”.
Diferentemente de colecionadores, que organizam, limpam e catalogam os itens, geralmente relacionados a um tema de interesse específico, os acumuladores tendem a manter objetos de diferentes categorias e sem qualquer tipo de organização, pontua a especialista.
Prefeitura de Campinas retira caminhões de lixo da casa de um acumulador
Oito caminhões
Após denúncias de vizinhos, a Secretaria de Limpeza Urbana de Campinas (SP) utilizou pelo menos oito caminhões para retirar entulho da casa de um idoso, morador do Jardim Indianápolis, na tarde do dia 11 de março. Veja detalhes no vídeo acima.
A residência fica na Rua João Batista Alves da Silva Telles. Nela, havia montanhas de materiais acumulados, incluindo sacolas plásticas, lixo orgânico e outros objetos.
“A gente sabia que tinha bastante coisa lá dentro, mas o tanto de coisa a gente não tinha como ter noção daqui de fora. A gente sempre, quando foi possível, ajudou ele, mas não tinha como ajudá-lo nessa questão. Estou com dó, mas é necessário”, disse a assistente administrativa Marília Dias.
O morador foi encaminhado para uma unidade do Caps. Ele reside no local há mais de 30 anos, segundo vizinhos.
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas